E ela na tentativa acalmar o que parecia não ter mais
possibilidade de calma,
insistia em frente ao espelho:
-Olhe, não fique assim não,
vai passar. Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai
aguentar,
mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode.
Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar. (Fernando Pessoa escreveu, num momento parecido, “hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu”) Dor é assim mesmo, arde, depois passa. Pense assim: agora tá insuportável, agora você
queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Agora já é dez segundos depois da frase passada. Sua dor já é dez segundos menor do que duas linhas atrás. Você acha que não porque esperar a dor passar é como olhar um
transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já tá lá longe. A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, essa sensação de que pegaram sua
traqueia e seu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo - é difícil de acreditar, eu sei -
vai virar só uma memória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias.
Levante-se daí, vá tomar um picolé, ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando você for ver, passou. Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. Como cantou
Vinicius: “É melhor viver do que ser feliz”. Porque pra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder.
A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai.
Dói,ai,eu sei como dói. Mas passa.
[Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando]. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o
único jeito de deixá-la pra trás é continuar andando.
Você vai ser feliz. Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto de agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela.
Juro que tô falando a verdade. Eu não minto, quando é pra ser.. não tem jeito, acredite…
Vai passar