Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito..
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sábado, 19 de março de 2011

A moça - que não era Capitu

''Lá está ela, mais uma vez.
Não sei, não vou saber,
não dá pra entender
como ela não se cansa disso.

Sabe que tudo acontece
como um jogo,
se é de azar ou de sorte,
não dá pra prever.

Ou melhor, até se pode prever,
mas ela dispensa.

Acredito que essa moça,
no fundo gosta dessas coisas.

De se apaixonar, de se jogar num rio
onde ela não sabe se consegue nadar.

Ela não desiste e leva bóias.
E se ela se afogar, se recupera.

Estranho e que ela já apanhou demais da vida.
Essa moça tem relacionamentos estranhos,

acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta.
[ E quem não é?]
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém,
mas o que te garante
que você não está somente servindo pra tapar buracos,

servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça, ela muito amou,
ama, amará, e muito se machuca também.
Porque amar também é isso, não?
Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes,

até que ela fique bem e te deixe pra trás,
fraco e sangrando.

Daí você espera por alguém que venha te curar.
As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não.
E pra ela? Por quem ela espera?

E assim, aos poucos,
ela se esquece dos socos, pontapés,
golpes baixos que a vida lhe deu,
lhe dará.

A moça - que não era Capitu,
mas também tem olhos de ressaca -

[levanta e segue em frente.]
Não por ser forte, e sim pelo contrário,
por saber que é fraca o bastante
para não conseguir ter ódio no seu coração,

na sua alma, na sua essência.
E ama, sabendo que vai chorar
[muitas vezes ainda.]

Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.''


(Caio Fermando'

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