"Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão.
E que só sabe escrever.
Não sei mais falar, abraçar, dar beijos,
dizer coisas aparentemente simples como "eu gosto de você". Gosto de mim.
Acho que é o destino dos escritores. E tenho pensado que,
mais do que qualquer outra coisa, sou um escritor.
Uma pessoa que escreve sobre a vida – como quem olha de uma janela
– mas não consegue vivê-la.
Amo vocês como quem escreve para uma ficção:
sem conseguir dizer nem mostrar isso.
O que sobra é o áspero do gesto, a secura da palavra.
Por trás disso, há muito amor.
Amor louco – todas as pessoas são loucas, inclusive nós; amor encabulado
– nós, da fronteira com a Argentina, somos especialmente encabulados.
Mas amor de verdade. Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão.
Está ficando tarde, e eu tenho medo de ter desaprendido o jeito.
É muito difícil ficar adulto."
.
Caio F.
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